quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Povoamento de Canguçu

No ano de 1737, o Brigadeiro José da Silva Paes desembarcou em Rio Grande do Sul, rompendo, assim,no sul do Brasil o cordão do tratado de Tordesilhas de 1494.
Em 1750, foi celebrado o Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha, ficando o Rio Grande do Sul, em linhas gerais dividido entre Espanha e Portugal, ficando o Rio Grande do Sul, em linhas gerais dividido entre Espanha e Portugal, pela linha divisória dos rios que vão desaguar no Uruguai e, do outro lado, pelos rios que deságuam nas Lagoas dos Patos e Mirim.
A penetração, ao Sul do Jacuí a Oeste da linha lagoa Mirim, Canal São Gonçalo, Lagoa dos patos, foi impedida pelos índios. Tapes que cumpriam ordens dos Jesuítas de Sete Povos das Missões. Canguçu era peresumidamente uma guarda avançada dos jesuítas para observar e, impedir que os português de Rio grande penetrasse no território além do Canal São Gonçalo.
Em 1754 foi fundado Rio Pardo pelos portugueses como um ponto de apoio militar.
Ligava-se ao Rio Grande por água, de vez que a ligação por terra era impedida pelos índios. Para vencer a resistência indígena à demarcação de limites, os exércitos de Portugal e Espanha travaram uma guerra denominada Guaranítica, destroçando os indígenas por completo na Batalha de Caiboaté (10/fev/1756). Eliminada a resistência, os portugueses e espanhóis ficaram senhores da campanha e, aventureiros passaram a cruzá-la e a caçar o gado acumulado pelos índios no quadrilátero, formado pelos rios Camaquã, Negro, Quarai, Uruguai, Ibicuí, Jacuí e terras que margeiam a Lagoa dos Patos, onde estavam as 11 estâncias dos Jesuítas.
A partir de então, passando por Canguçu, então denominado Arroio das Pedras, Dragões de Rio Pardo e Rio Grande passaram a comunicar-se pelo caminho atual, Rio Pardo – Pântano Grande – Encruzilhada – Vão dos Prestes – Coxilha do Fogo – Canguçu, Morro redondo – Vila Freire – Pedro Osório – Pelotas – Rio Grande.
Em 1758, dois anos após a batalha de Caiboaté, o Cel. Thomaz Luiz Osório, herói desta batalha, recebeu uma enorme extensão de terras onde se ergue o Município de Pelotas, a abrangendo terras de Canguçu.
Em 1762 o mesmo coronel passou por Canguçu vindo de Rio Pardo e com destino ao Chuy, com 400 soldados dragões e milicianos, 8 peças de bronze de artilharia e 2 de amiudar. Foi construída a Fortaleza de Santa Tereza que lhe foi tomada em 1763 pelos espanhóis que ao seguir invadem Rio Grande que dominaram por 13 anos.
Em 1763, passou por Canguçu, procedente de Rio Pardo, uma companhia de Dragões em socorro ao Cel. Osório, para atuar na retaguarda do invasor. Chegando ao São Gonçalo, atual, Pelotas, retornou pelo mesmo caminho, pois nada mais havia a fazer. Estava consumada a invasão. Com a invasão da Vila de Rio Grande pelos espanhóis, os açorianos que se estabeleceram entre Rio Grande e São Gonçalo, fugiram na direção de Rio Pardo, estabelecendo-se alguns em Canguçu, dando origem ao seu povoamento no local atualmente denominado Canguçu Velho.
No período de 1763 – 1776, Canguçu foi palco de guerrilha contra os espanhóis. Comandava-as Cel. Rafael Pinto Bandeira que, com suas forças, percorreu toda Serra do Herval e dos tapes. Nos passos do Camaquã de Cima e de Baixo, estabeleceu guardas e, em Encruzilhada do Duro (Coxilha do Fogo), ponto de convergência dos caminhos, a







partir dos passos do Rio Camaquã, para atingir-se Rio Grande, Encruzilhada d Duro, foi então a base de combate das guerrilhas ordenadas por Portugal.
Em treze anos, os milicianos de Rafael percorreram os campos de Canguçu e os reconheceram profundamente, para requerem após um pedaço de campo. Em 1773, passou por Canguçu, proveniente da margem do Jacuí, fronteira à Rio Pardo e com destino a Rio Grande o Governador de Buenos Aires, Vertiz e Salcedo. Pretendiam conquistar Rio Pardo e assim separar os domínios de Espanha e Portugal pela linha lagoas dos Patos e Mirim e Rio Jacuí.
Fracassou no entanto, graças a situação dos guerrilheiros de Rafael Pinto Bandeira que resistiram a sua penetração.
Segundo Tasso Fragoso, Vertiz e Salcedo planejava com os reforços de Corrientes, conquistar sucessivamente, Rio Pardo, Porto Alegre, São José do Norte e operar junção com os espanhóis em Rio Grande e assim conquistar por completo o Rio Grande do Sul.
A vitória de Rafael Pinto Bandeira, junto com outras anulou por completo o projeto deste governador, combinada com a ação de desfalcarem de gado cavalar e vacum os caminhos da invasão, fazendo com que Vertiz e Salcedo perdesse o ímpeto ofensivo e desistisse de seu intento, após longa jornada, na qual estabeleceu o Forte de Santa Tecla em Bagé, em plena campanha do Rio Grande do Sul.
Em 1776, Pinto Bandeira com seus milicianos, reforçados por Dragões do Rio Pardo ao comando do Sargento Maior Patrício Correia da Câmara venceram os espanhóis estabelecidos neste forte e o arrasaram. Após este brilhante feito de armas, Patrício Correia da Câmara partiu de encruzilhada (até onde foi acompanhado por Rafael Pinto Bandeira) rumo ao Rio Grande, passando por Canguçu então Passo das Pedras. Seu relatório de marcha acha-se publicado na obra “Os Dragões de Rio Pardo” de De Paranhos Antunes, RJ, Biblex, 1954.
Rafael Pinto bandeira, a fim de precaver-se contra arreadas inimigas utilizava Encruzilhada para guardar cavalos para sua remonta. Após Santa Tecla, distribuir terras a seus milicianos nas serras dos Tapes e Herval, à revelia do governo português e sob protesto do governador Marcelino de Figueiredo segundo o General João Borges Fontes, em “Rio Grande de São Pedro”.
Em 1777, Rafael Pinto Bandeira, na iminência de uma invasão espanhola, partiu de Canguçu com seus milicianos para uma grande areada de gado nas imediações de Montevidéu usando a estratégia que utilizou contra Vertiz e Salcedo. Este gado foi depositado nos campos adjacentes a atual cidade de MONTEIRO, Jonathas da Costa Rego, Cel. “Dominação Espanhola do Rio Grande do Sul 1763 - 1777”, Rio de Janeiro, Estado Maior do Exército, 1935. (Mapa entre as páginas 100 e 101).
Neste mapa no local e adjacências se ergue Canguçu lê-se: “Aqui se alojou o Coronel Rafael Pinto Bandeira com as tropas que comandava ao tempo da Guerra para passar as vizinhanças de Montevidéu, com o fim de destruir e arrear os gados dos Castelhanos, o que conseguiu com facilidade, trazendo avultada quantia de gado vacum e cavalar em 1777”.
Disto conclui-se que Pinto bandeira uniu em Canguçu os homens que lutaram a seu lado no período de 1763 – 1776, os quais estavam empenhados , então, em organizar as estâncias que lhes couberam como prêmio de guerra vitoriosa.








A presa da arreada Rafael Pinto Bandeira colocou em Canguçu inacessível e fora dos três históricos caminhos de invasão levantados pelo historiador militar Antônio de Souza Junior.
A invasão de Ceballos ao Rio Grande não chegou a concretizar-se. Conseguiu no entanto arrasar a Colônia do Sacramento em definitivo, obrigando a que portugueses que lá se encontravam fazia mais de 100 anos, fossem obrigados a refugiar-se na Vila de Rio Grande, na condição de deslocados da guerra. A estes vieram somar-se refugiados portugueses transportados de Rio Grande e adjacências para Maldonado, em 1763.
Quando eles chegaram não tinham terras a receber. Estavam quase todas tomadas pelos que lutaram na campanha de 1763 – 1766. Foram distribuídos em grande número pelas terras e matas nas Serras dos tapes (Canguçu e Piratini).
A esta guerra seguiu-se um período de paz e prosperidade, os limites entre Espanha e Portugal foram regulados pelo Tratado de Santo Ildefonso de 1777. Por ele, parte da fronteira passava no rio Piratini.
Canguçu foi de 1777 – 1801, 24 anos, fronteira entre Espanha e Portugal e entre Arroio Grande e rio Piratini estendiam-se os “Campus Neutrais” que não podiam ser ocupados nem por espanhóis nem por portugueses.
Neste clima de paz o povoamento de Canguçu foi acelerado. Lavouras de trigo surgiram por todos os lugares e, especialmente na Vila Freire, bem como se multiplicam as estâncias para produzirem gado para as charqueadas estabelecidas em Pelotas em 1780.

Continua


Cel. Cláudio Moreira Bento

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